Será que aumentando o número de fóruns em um curso fazemos aumentar a participação dos alunos? Essa foi a pergunta feita por um cliente meu, mediante a baixa participação dos alunos no fórum da disciplina que estava ministrando em um curso superior a distância. Minha resposta foi categórica, mediante o fato do curso concentrar todas as discussões em um único fórum na sala de aula virtual, ao invés de ter fóruns temáticos para cada tópico da disciplina online. A minha experiência mostra que não é aumentando o número de instância de fóruns no curso que aumenta a participação do aluno. Na realidade, a única coisa que aumenta é a dispersão de discussões e o trabalho de tutoria para acompanhar as parcas e distribuídas discussões ao longo de diferentes fóruns.

A baixa participação dos alunos nos fóruns é resultado de cursos desenhados para serem comportamentalistas, na base de fazer leitura do texto em PDF, seguido de questionários com perguntas de múltipla escolha, com questões abertas supostamente a serem usadas num fórum de discussão. É o estilo tradicional que acaba sendo levado a cabo por 99% dos cursos de graduação autorizados pelo MEC. Ou seja, são cursos fortemente focados na apresentação de conteúdo para os alunos, sem uma melhor estruturação de atividades que chamem a atenção dos alunos a conceitos através de debates ao longo do curso.

Ás vezes o tutor também colabora para este morasmo de interatividade na medida em que não estimula a discussão, se colocando numa posição mais reativa que proativa. Porém, na maioria das vezes em que tive contato com projetos de cursos de graduação, mesmo o tutor fazendo o seu trabalho, o resultado é pífio. Pois não basta ter questões abertas prontas para serem ‘jogadas’ no fórum na esperança de estimular discussão. Tem que haver um planejamento dos objetivos de aprendizagem, do conteúdo e da dinâmica das atividades do curso para que a reflexão sobre os conceitos que estão sendo abordados no curso sejam objeto de reflexão, expresso eventualmente em fóruns, aí sim estimulado pelo tutor.

Sem este desenho instrucional adequado, melhor não criar expectativas de  altas discussões em fóruns, pois o aluno simplesmente não vê sentido em participar. E se participar for força de regras do curso, será uma participação mecânica, sem entusiasmo, apenas para ‘cumprir’ tabela.

Mas como projetar cursos que estimulem a participação?

Como podemos perceber, desenhar um curso com apelo interativo é muito mais do que elencar um programa, escrever o conteúdo referente e montar em alguma mídia para consumo e levantar questões para discussão. Na realidade, antes de elencar o programa do curso, o autor deve se perguntar: Que competências eu quero que o aluno adquira com meu curso? A resposta a esta pergunta norteia não apenas a autoria de textos e vídeos, mas também, E PRINCIPALMENTE, as atividades que os alunos serão induzidos a exercitar no sentido de refletir, debater, questionar, adaptar à sua realidade os conceitos que são passivamente apresentados no conteúdo do curso.

Em alguns casos, pode-se usar a técnica usada em metodologias de aprendizagem ativa baseadas em questionamentos, onde o conteúdo é estruturado com lacunas a serem preenchidas nas discussões. Isso significa que sem debate, sem questionamentos e respostas via fórum, não há o fechamento dos conceitos que necessitam serem aprendidos. Isso implica em ter parte do conteúdo escondido do aluno até chegar o momento certo de disponibilizar para eles. Ou seja, os alunos apenas vão chegar aos conceitos planejados para o curso se discutirem e questionarem no fórum, aí o tutor terá o conteúdo complementar pronto para ser usado nas respostas (questionamento sobre o conhecimento percebido como necessário), ou se pesquisarem em fontes externas ao conteúdo preparado para o curso, o que constitui aprendizagem ativa (busca do conhecimento percebido como necessário).

Mas como o aluno vai saber o que é necessário em termos de conhecimento para perceber as lacunas a serem preenchidas?

Aí é onde o desenho do curso se mostra necessário, seja em termos de conteúdo deixar claro tais lacunas, ou a ação dos tutores, com argumentos previamente preparados, iniciar discussões nos fóruns para levar os alunos à reflexão e à identificação de tais lacunas. Isso os levará à busca do preenchimento destas lacunas (seja por questionamento, seja por pesquisa) e ao aprendizado efetivo. Quando o autor do curso se desprende da forma limitada da abordagem comportamentalista e adere totalmente à metodologias ativas de aprendizagem, a forma de planejar o conteúdo e a dinâmica do curso fica mais clara.

O grande problema disso é que implica em aumento da carga de trabalho e de tempo necessário tanto para o projeto do curso quanto para suportar a sua dinâmica. Pois não basta preparar material, deixar no ambiente virtual e esperar passivamente para ver no que é que dá. As metodologias ativas de aprendizagem também demandam de muita atividade de quem aplica o curso, que precisa ter mais preparo acadêmico para tal. O número de alunos por tutor precisa ser, portanto, reduzido bastante, o que compromete financeiramente o equilíbrio dos cursos de graduação que são vendidos tendo o preço da mensalidade como principal atrativo.

O que acaba sendo feito na maioria das vezes é, portanto, o feijão-com-arroz já citado. E assim caminha a maioria dos nossos cursos de nível superior, seja a distância ou presenciais. 🙁

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