Quando uma Instituição de Ensino Superior é auditada pelo MEC (através do INEP – Insituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teireira) para verificar o nível de qualidade e o alinhamento da operação com o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), muitos são os aspectos verificados pelos auditores, especificados em manual detalhado de inspeção.

Embora haja detalhes sobre aspectos operacionais como existência e bebedouros e equipamentos, o documento não cita sequer cita o termo ambiente virtual de aprendizagem (ou equivalente), embora esta ferramenta é essencial para a qualidade de um curso superior a distância ou presencial com parte a distância. O manual até menciona a importância de se encontrar sinais de capacitação docente e existência de pessoal técnico necessário a lidar com as tecnologias utilizadas nos cursos, mas nada especifica no que diz respeito à EAD. Aliás, o termo tecnologia (ou similar) aparece apenas seis vezes no texto de 84 páginas, como se ignorasse a importância dos aspectos tecnológicos para o exercício de uma educação de qualidade. O texto dá entender que ao se constatar que há recursos humanos pedagogica e tecnologicamente capacitados, então se infere que o resto se resolve naturalmente. Não é verdade!

Considerando que os auditores são professores de instituições de ensino superior credenciados para tal, sabemos que nem sempre os mesmos têm conhecimentos tecnológicos. Por outro lado, sem ignorar o fato de que a tecnologia mais comum de ambientes virtuais de aprendizagem é, de longo, o Moodle, escrevo este pequeno texto para sugerir meia-dúzia de aspectos chave para lidar com EAD de qualidade. Não que seja únicos, mas funcionam como marcadores. Se são encontrados, provavelmente outros aspectos tão ou mais importantes também devem ser satisfeitos na operação da instituição. São eles:

Política e recursos de backup

Já lidei com clientes recém chegados de outros fornecedores de serviços Moodle que simplesmente ignoravam o significado de ‘backup’, sem entender o impacto que isso pode ter sobre a sua instituição. Passaram anos expostos a desastres computacionais em que TODOS os dados correntes e legados dos alunos e dos cursos podiam ser perdidos mediante um acidente envolvendo hardware e/ou software. Um auditor precisa saber se a instituição tem uma política de backup de tudo que está na Internet. Isso implica em ter backups pelo menos semanais (o ideal é isso ser feito diariamente), armazenados tanto no servidor quanto localmente, de forma que a instituição possa se recuperar de um desastre computacional. Além disso, deve verificar se são feitas periodicamente (pelo menos bianualmente) simulação de recuperação de desastre, para treinar os recursos humanos e fornecedores envolvidos para o caso de uma catástrofe tecnológica.

Tanto o MEC quanto as IES têm que entender que a perda total de dados de EAD pode trazer danos pedagógicos irreparáveis a centenas ou milhares de alunos, e ter como consequência a perda do credenciamento da instituição. O cliente que citei, passou a fazer backups regulares, contando com estocagem de dados localmente na instituição, além dos backups que mantínhamos regularmente na nuvem. E isso só ocorreu após nossa exigência contratual para prover o serviço de hospedagem Moodle, pois não havia iniciativa da equipe gerencial ou tecnológica do cliente neste sentido.

Uso de mensageiro interno do Moodle

O MEC exige que a IES ofereça telefone de suporte com número 0800 para uso dos alunos. Tal como preconizar a entrega de conteúdo em papel, parece que se ignora o fato de estamos no século XXI. Não que distribuir conteúdo físico e se comunicar por telefone sejam dispensáveis para a realidade social de certas regiões. Mas nem por isso devemos ignorar o que se tem de mais sofisticado.

O uso do mensageiro interno do Moodle permite auditoria por parte de coordenadores e gestores sobre como os tutores e professores estão atendendo os alunos no dia-a-dia da instituição. Isso é muito importante para a promoção da qualidade do processo, haja visto que o tutor/professor sabe que a rapidez, presteza, qualidade do seu trabalho são facilmente verificáveis pelos superiores. Não é difícil encontrar a comunicação entre alunos e educadores ocorrer até através de contas do Gmail ou similares. Isso dificulta ou impossibilita essa verificação, facilitando o relaxamento da qualidade.

Além do mais, o uso do mensageiro interno do Moodle mantém a privacidade do educador, que não precisa revelar seu email (mesmo que profissional) para os alunos. Isso ainda permite uso de tecnologias aditivas ao Moodle (plugins) para fazer meta-análise da comunicação, permitindo gerar gráficos para acompanhamento da produtividade do atendimento aos alunos por parte da equipe pedagógica.

Existência de relatórios personalizados

Todos nós sabemos das aparentes limitações dos relatórios de uso do Moodle. Na realidade, não são limitações, pois tais relatórios são propositadamente básicos, focando principalmente a dinâmica do processo de educação a distância. Relatórios mais sofisticados ficam para serem desenvolvidos particularmente para cada instituição que usa o Moodle, de forma a atender exatamente suas peculiaridades que dificilmente seriam atendidas por relatórios nativos.

Assim, a existência de relatórios personalizados para a instituição é um forte indicador de que a coordenação pedagógica está sabendo do que está fazendo por sabe do que precisa para tocar sua rotina de macro-acompanhamento do que ocorre no curso.

Professores com certificação de capacitação Moodle

Não adianta saber usar o Moodle como escaninho virtual e usar um fórum para debates. O professor tem que dominar razoavelmente (senão profundamente) a ferramenta para fazer EAD ou cursos híbridos de qualidade. Assim, ter certificação emitida por uma instituição de credibilidade ou um Moodle Partner é indicador que os professores sabem usar a ferramenta de modo que tirem o melhor que ela tem para oferecer para sua prática didática, seja na elaboração de cursos, seja na aplicação dos mesmos.

Uso do recurso de estatísticas do Moodle

Há um recurso do Moodle que ativa o armazenamento de dados estatísticos de uso. Trata-se de um uma funcionalidade que inicialmente é desativada na instalação da plataforma, pois consome muitos recursos computacionais do servidor. Mas pode ser ativada para que seja possível o acesso a várias estatísticas principalmente sobre os processos de interatividade entre usuários. Ao encontrar este recurso ativado, bem como os dados por lele gerado sendo utilizados pela coordenação do curso superior a distância, o auditor tem outra importante indicação que a equipe pedagógica está sabendo minimamente o que está fazendo ao usar o Moodle com profissionalismo.

Moodle e conteúdo com interface responsiva

Ter o Moodle com interface responsiva é fácil, é até automático se estiver usando uma versão recente. Mas ter conteúdo responsivo não é para amadores. Isso significa não ter conteúdo em PDF, mas sim em HTML5, de modo que o texto se adapte a telas de diferentes tamanhos, do pequeno smartphone à tela grande do computador de mesa, com figuras encolhendo nas pequenas telas, mas ainda visíveis, e se arranjando nas grandes de forma a não dificultar a leitura do texto.

Apesar do MEC ainda estar no século XX, exigindo distribuição de conteúdo em papel e, quando mais moderninho, também em PDF, é HTML5 o padrão de interfaces responsivas num mundo que gira em torno do smartphone. O fato de ter um conteúdo em HTML5 não é incompatível com o formato PDF para os aficionados pelo padrão da Adobe, pois basta imprimir ou salvar o conteúdo HTML5 como PDF que o retrocesso tecnológico é facilmente efetivado.

Reforço a ideia de que os itens supracitados são apenas marcadores de qualidade, não garante que haja qualidade no uso do Moodle. Indicam fortemente esta qualidade pelo fato de que se são encontrados, indicam que a instituição tem gente que usa o Moodle efetivamente de forma inteligente, sendo necessária experiência, capacitação e infraestrutura adequadas para tal. Na realidade, para fazer uma auditoria mais eficaz, auditores teriam que ter capacitação para tal, pois há inúmeros detalhes no uso do Moodle que revelam muito do que uma instituição faz da sua EAD.


PS: Lembro também da possibilidade que alguém da instituição também leu este texto e se adiantou em providenciar os itens acima, apenas por precaução, mas sem qualquer noção maior do que elas significam num curso superior a distância.

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