Este texto mostra as opções que um egresso do ensino médio no Canadá tem em termos de educação após concluir o highschool. Objetiva mostrar de forma ampla, embora superficial, as perspectivas que um jovem tem no Canadá para seu futuro pessoal e profissional.


Ao concluir o ensino médio no Canadá, o estudante tem diferentes caminhos para dar prosseguimento em sua vida profissional. Basicamente podemos listar quatro opções:

  1. Há aqueles que partem para o mercado de trabalho, em geral atuando nos ramos de comércio ou serviços que não demandam de mão-de-obra qualificada. O máximo de qualificação exigida é aquele adquirido na própria escola de ensino médio, através das disciplinas de natureza especial: culinária, mecânica de automóveis, informática, marcenaria, entre outros. Estes egressos vão constituir a base da pirâmide de mão-de-obra do mercado, tanto em termos de hierarquia operacional quanto em termos salariais. No mercado, o que podem conseguir no que diz respeito à educação continuada é apenas o que é relevante ao processo de trabalho em que estão inseridos.
  2. Alunos que, por escolha de vida ou por força maior, desejam ter uma opção pós-secundária que rapidamente lhes dêem uma profissão, partem para a realização dos cursos chamados Trades, o equivalente a cursos profissionalizantes no Brasil. A lei canadense regulamenta mais de 200 trades, como por exemplo: eletricistas, carpinteiros, encanadores, soldadores, pintores, mecânicos, torneiros mecânicos, chefes de cozinha, floristas, cabelereiros, padeiros, etc. Os cursos de trades duram de alguns meses a dois anos, são realizados por instituições credenciadas que emitem certificação que dá ao profissional um status mais elevado no mercado e, algumas vezes, exclusividade em alguns procedimentos profissionais. Alguns deles são feitos concomitantemente ao highschool, na própria escola sedundária. No Brasil, os trades encontram semelhança na formação obtida no sistema S (Senai, Senac, Senat, Senar, etc.).
  3. Os alunos que têm condições de investir um pouco mais de tempo, mas não desejam ou têm como alongar-se em uma carreira acadêmica optam pelo College. Trata-se de um tipo de instituição que se assemelha aos institutos federais de educação (embora estes tenham um foco menos amplo que os colleges), com cursos que duram de dois a quatro anos, formando tecnólogos e bacharéis nas mais diversas áreas (os colleges nos Estados Unidos têm características bem diferentes dos colleges canadenses, oferecendo cursos mais básicos e de menor duração). Alguns colleges também fornecem cursos de trades. Os colleges têm cursos mais em conta do que as universidades, pois a educação pública e gratuita no Canadá vai até o ensino médio. Em geral, os colleges oferecem cursos pagos, variando de algumas centenas até poucos milhares de dólares canadenses por ano. O enfoque dos cursos de colleges sempre estão bastante sintonizados com as demandas de mercado, de modo que o nível de empregabilidade dos seus egressos é bem alta. Tais cursos também podem servir de entrada em cursos na universidade, dependendo de acordos entre as partes (college e universidade).
  4. A última opção são os cursos universitários, que demandam mais investimento de tempo (quatro a cinco anos) e dinheiro (variando entre vários milhares a algumas dezenas de milhares de dólares por ano). São cursos com fundamentação mais filosófica, com preparação mais aprofundada do aluno, habilitando-o a uma carreira mais promissora e com mais opções, tanto mercadológicas quanto acadêmicas.

Dentre estas quatro opções básicas, as que efetivamente usam educação híbrida (presencial + online) e a distância (online) são os 82 colleges e as 76 universidades canadenses (dados de 2016). Em geral se trata de instituições grandes o sufiente para possuir todo um conjunto de pré-requisitos para tal, incluindo ambientes virtuais de aprendizagem, redes internas de computadores, campi com cobertura wifi, equipamentos de última geração voltados ao ensino, recursos humanos especializados em suas respectivas áreas de atuação, entre outros.

Uso de Tecnologia na Rotina de Cursos

Assim, a educação pós-secundária no Canadá segue e amplia a lógica de uso da educação híbrida e a distância descrita para o ensino básico. E isso não apenas com uso de ambientes virtuais de aprendizagem para propiciar interação entre alunos e professores, e uso de serviços web no domínio virtual da instituição, como Microsoft SharePoint ou Google Apps, mas também com uso de equipamentos de uso pessoal comuns em um país cuja renda per capta é semelhante à dos Estados Unidos da America. Desta forma, os alunos entram em cursos conhecedores que uso de notebooks e dispositivos móveis (e-books, tablets e smarthones) é algo que faz parte da rotina do curso, cabendo a cada um trazer seus equipamentos pessoais e usar o que é comum a todos: a rede wifi de acesso à Internet. Trata-se do conceito de BYOD (Bring Your Own Device ou traga seu próprio dispositivo), que inclui smartphones, tablets, e-books e notebooks. Isto é possível devido ao alto poder de compra da população unido a preços de eletrônicos relativamente acessíveis.

O uso de dispositivos móveis dos alunos para acesso aos recursos das instituições é bastante vantajoso para a disseminação de educação híbrida. Atender todos ou a maioria dos alunos com o conceito arcaico de ‘laboratório de informática’ demandaria de um investimento muito alto, hoje podendo ser substituído pelo fornecimento de cobertura wifi , em geral espalhada e unificada por toda as instalações da instituição.

Há, portanto, um novo foco de investimento, que é na disponibilização de recursos online para promover o processo educacional, em forma de conteúdos prontos adquiridos para uso coletivo, ambientes virtuais de aprendizagem, serviços web, objetos de aprendizagem e recursos educacionais abertos.

A educação híbrida tem uma importância não apenas pela motivação pedagógica, mas também por uma peculiaridade do mercado canadense, onde existe o que é chamado de full time student e part-time student, ou seja, estudantes de período integral e estudantes de meio-período. Estes últimos se dedicam parcialmente às suas atividades de educação pós-secundário, o que amplia o tempo de conclusão dos cursos. No SAIT (Southern Alberta Institute of Technology), por exemplo, cursos que em período integral são concluídos em dois anos, podem levar até sete anos para serem concluídos em período parcial de dedicação do aluno. Mais do que os alunos de período integral, os alunos de dedicação parcial precisam dos recursos didáticos da educação híbrida para melhorarem o nível de interação com os professores e colegas.

Mesmo para quem faz um curso de graduação em período integral, encontra na educação a distância um forte aliado, pois o mesmo pode assistir a disciplinas em uma outra instituição para o reconhecimento da mesma na instituição onde faz o curso, através de um processo que se chama transferência de créditos. Para tanto, basta que haja convênio entre as instituições envolvidas. Com esta facilidade, a Athabasca University, uma instituição que fornece exclusivamente cursos de extensão, graduação, mestrado e doutorado online, atende mais de 43 mil alunos de todo o mundo (dados de 2016). Boa parte destes alunos fazem cursos nesta universidade para depois transferir os créditos para outras instituições canadenses, agilizando a conclusão de seus cursos ou recuperando de algum tempo perdido em seus respectivos processos educacionais. O contrário também é possível, permitindo que o aluno conclua um curso na Universidade de Athabasca incluindo disciplinas feitas não apenas no Canadá, mas também em várias instituições dos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio.

O entendimento de como educação a distância ou híbrida impacta na vida do aluno é facilitado quando se percebe um fenômeno comum no Canadá, mas relativamente pouco percebido no Brasil: a mudança de carreira. Não é difícil encontrar um canadense que, ao longo da vida, atuou em duas ou três profissões bem distintas. Para isso, precisa contar com uma estrutura educacional que facilite não apenas o aproveitamento de conhecimento adquirido previamente, mas também a aquisição de novas competências. Para tanto, cursos a distância são fornecidos por praticamente todas as universidades e colleges canadenses. Especialmente no caso dos cursos de educação continuada (cursos de extensão), podemos encontrar ofertas paralelas, nas modalidades presencial e a distância, entendendo que na modalidade presencial sempre teremos elementos de educação híbrida inseridos na metodologia do curso. No Canadá, educação a distância não é considerada educação de segunda categoria, pois os cursos a distância têm qualidade.

A oferta de cursos a distância por universidades e colleges é tão grande que motivou a criação da Canadian Virtual University (CVU), uma associação de instituições públicas canadenses, focada no aprimoramento da qualidade dos cursos online oferecidos pelas instituições associadas, muitos deles reconhecidos nos Estados Unidos. A CVU facilita o acesso do estudante a cursos de diferentes instituições para posterior transferência de créditos entre as mesmas, organiza a criação de novos programas de cursos em uma instituição com o que já foi desenvolvido para outra, compartilha esforços de marketing, suporte a aluno, serviços administrativos, e melhores práticas entre as instituições associadas. Trata-se de uma organização que tem semelhanças, embora bem menos regulamentada, com a UAB (Universidade Aberta do Brasil), entidade governamental que reúne esforços em educação a distância oriunda de diferentes instituições de ensino superior públicas no Brasil.

Em se tratando de pós-graduação strictus e latus sensu, programas de mestrado e doutorado são bastante disseminados. A citada Universidade de Athabasca tem dois programas de doutorado, sete programas de mestrado, além de onze cursos de pós-graduação strictus sensu (algo equivalente à curso de especialização no Brasil) oferecidos totalmente via Internet. Os seus docentes e pesquisadores contam com três institutos de pesquisa e instalações espalhadas por quatro cidades da província de Alberta. Nota-se claramente que cursos a distância ou híbridos contam com o respeito na academia e no mercado canadense, pois se tem a percepção de que não é assistindo aulas em uma sala de aula que vai garantir a qualidade de um curso e do conhecimento obtido através do mesmo.

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Esta é o segundo texto de uma sequência de quatro textos. Para ter acesso ao primeiro texto e entender o contexto em que está inserido este texto, bem como link direto para os outros textos, clique aqui.

O texto original de Giovanni Farias pode ser encontrado no capítulo Educação Híbrida e a Distância no Canadá, do livro Tecnologias Interativas – Mídia e Conhecimento na Educação, Paco Editorial, 2016, ISBN 987-85-462-0256-0.

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