O que tem a ver o lançamento hoje do iPhone 8 com uma possível nova perspectiva na educação? O evento poderia ter sido mais uma celebração de upgrade de versão do famoso smartphone. Mas um detalhe pode se tornar um marco em termos de ciclo da categoria do produto. Nada relacionado com o iPHone 8, mas com lançamento concomitante do Apple Watch 3. Vejamos porque.

Já faz algum tempo que o iPhone deixou de ser a ponta de  inovação em termos de smartphone, sendo sobrepujada em alguns aspectos por produtos de marcas famosas, como Samsung e LG, bem como por marcas ‘xing-ling’ como a chinesa MI. O lançamento hoje do iPhone 8 não tirou a Apple desta situação. As especificações técnicas foram ampliadas, o que é natural na evolução de versões, e foi apresentado novo design, com nova composição de materiais, o que é básico para uma nova versão de qualquer bom smartphone. As funcionalidades mais destacáveis do iPhone 8 não podem ser consideradas inovação: corpo de vidro, tela infinita, fim do botão Home, segurança por reconhecimento de face, realidade aumentada, zoom ótico e processamento multitarefa já fazem parte do repertório de produtos concorrentes ou mesmo da própria Apple, apenas havendo aprimoramentos tecnológicos.

O que realmente chamou a minha atenção hoje foi o Apple Watch 3. Não pelas facilidades que o gadget oferece para acesso a informações na nuvem, mas um detalhe que não foi muito destacado na mídia, mas que considero um marco: a possibilidade de receber um SIN card. Ou seja, o dispositivo tem autonomia de acesso à Internet, pode trabalhar sem precisar de estar conectado ao iPhone. Talvez pareça pouco, mas isso pode ser o primeiro passo para o fim dos smartphones. Provavelmente você deve estar me achando exagerado, mas considere que há outras evoluções ocorrendo ao mesmo tempo que juntas podem trazer o ‘centro de gravidade’ tecnológico pessoal do smartphone para o relógio, da mesma forma como nos últimos anos vimos o mesmo ocorrer do notebook para o smartphone.

Mas quais são estas outras tecnologias?

 

Estou falando do aprimoramento das TV inteligentes, as mais avançadas já são conectáveis aos smartphones das respectivas marcas (Samsung e LG em destaque). Também estou falando de assistentes pessoais, como Siri (Apple), Bixby (Samsung), Cortana (Windows), além do Android (Google). Trata-se de tecnologias em franca expansão. A cada copa do mundo, TVs antigas são substituídas por novas gerações, cada vez mais conectadas com nossos gadgets. O mesmo ocorre com os assistentes pessoais, que cada vez mais eficentes acabam conquistando usuários ajudando na rotina do dia-a-dia. Estas duas tecnologias (para não mencionar Internet das coisas) permitem que um dispositivo pequeno como um smartwatch supere suas principais limitações: entrada e saída de dados.

Com assistentes pessoais cada vez mais sofisticados, precisos, eficientes e eficazes, a entrada de dados pode deixar de ser o deslizamento de nossos dedos para ser nossa voz. Não demorará muito para conversarmos com nossos relógios, tal como assistíamos nos filmes de ficção científica de não muito tempo atrás. Já a saída de dados pode ocorrer numa tela bem maior que a do smartwatch, uma vez que a integração destes gadgets com smartTVs está apenas começando. Isso enquanto não tivermos dispositivos ainda mais eficazes, como já foi ensaiado com o Google Glasses, e hoje temos nos próprios smartphones potenciais projetores com uso de óculos de realidade virtual, os VR headset, já encontrados em qualquer loja de informática de esquina.

Mas o que isso tem a ver com educação?

Tudo! Estes dispositivos de wearable technology serão parte de nossa vida tal como hoje são os smartphones. Sendo que com um poder computacional maior, não limitado pelo hardware do smartwatch, mas sim pelo grid computacional que suporta os assistentes pessoais dos seus respectivos fornecedores. Além do mais, a saída de dados será alocada com uso de telas grandes conectadas aos smartwatches ou mesmo com uso individual de VR headsets, também conectados aos smartwatches. A experiência poderá ser individualizada, como é majoritariamente hoje em dia pelo fato da exibição de dados depender de uma tela pequena. Mas a partir do momento que se torna comum o uso de VR headsets, a experiência pode ser efetivada coletivamente, conectado as realidades virtuais de diferentes smartwatches, através da nuvem, tal como hoje compartilhamos um documento no Google Drive ou no Dropbox.

O que eu escrevi acima pode parecer futurologia, mas não é. Todas as tecnologias citadas já existem, e nem sequer podem ser consideradas experimentais, pois já são encontradas de forma ordinária. O que falta apenas é adesão, através de aplicações práticas que só encontrarão incentivo quando tiver uma grande base de usuários. O que o lançamento do Apple Watch 3 significou para mim foi um marco concreto no sentido de se chegar a esta base de usuários, justamente por este pequeno detalhe: o uso autônomo do smartwatch.

A partir deste ponto, é só uma questão de tempo para todos estarmos usando smartwatch, demandando tecnologias de entrada e saída de dados, que se tornarão onipresentes em nossa rotina. E se você duvida, tente lembrar o que você usava no início de 2007, antes do iPhone primeira geração, e verá como a realidade pode mudar de forma tão dramática em um espaço de tempo relativamente pequeno, criando novas indústrias (apps, webconferência, economia compartilhada,… e abolindo ou transformando radicalmente outras (música em mídia, DVD player, telefonia, transmissão via satélite, livros, taxis…).

Só resta a frustração de imaginar que daqui a dez anos, o MEC continuará a exigir que o material dos cursos de graduação a distância ainda sejam distribuídos em formato de papel entre os alunos, secretarias estaduais de educação ainda proibirão o uso de celulares em sala de aula e professores ainda terão aulas expostivas presenciais como sendo a principal atividade de seus planos pedagógicos.

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