Ao completar 20 anos prestando serviços em Educação a Distância acabei escrevendo o texto abaixo, que me fez recordar muitas tecnologias que fizeram parte de nossa realidade e que hoje não mais mal conseguimos lembrar que existiram.

Recordo os primórdios da EAD no Brasil nos anos 90, quando poucos tinham usado Internet, ainda menos eram aqueles que entendiam o que poderia vir a ser Educação Online. De lá para cá, muita coisa mudou, e quem está no mercado a tanto tempo ainda lembra de materiais impressos e CD ou DVD enviados via Correios para apresentar textos e conteúdo multimídia. Dúvidas eram solucionadas por email, e algumas vezes a estrutura de atendimento ao aluno era baseado no velho telefone (fixo). Atendimento online, só se fosse através de chat, pois as conexões discadas não suportavam vídeo, muito menos compartilhamento de tela. Ví o surgimento, ascensão e queda da tecnologia Macromedia Flash como base para construção de conteúdo interativo.

Cheguei a usar o Netscape, um quase monopólio dos navegadores nos anos 90, substituído por outro quase monopólio, o amado e odiado Internet Explorer. Também ví este, por sua vez, também ser suplantado pelos Mozilla Firefox e depois pelo Google Chrome. Cheguei a fazer busca com Altavista, Webcrawler, Excite, Cadê e Yahoo antes de usar o hoje monopolista Google. Armazenei dados em disquetes de 5,25″, de 3,5″, Zipdrives, CDs, DVDs e Pendrives, antes de deixar tudo no Google Drive, Dropbox ou Onedrive. Comecei a prestar serviços em EAD usando computadores PC 486, com Windows 3.1, monitor SVGA e impressora matricial Epson, antes do hardware se tornar quase uma commodity inexpressiva mediante a importância da informação que é estocada na nuvem e acessada por qualquer hardware disponível e conectado à Internet. Ví o sucesso de conteúdos SCORM para EAD se tornarem verbo no mercado corporativo, pois se ‘scormizava’ um curso, para depois ver este padrão começar a cair no esquecimento (ainda em curso) mediante soluções bem mais completas chamadas de ambientes virtuais de aprendizagem, como o Moodle (que aceita SCORMs por sinal).

Acompanhei debates infindáveis de educadores defendendo abordagens comportamentalistas e sócio-interacionais em cursos online, quando ainda não existia redes sociais nem conectivismo, tão pouco ubiquidade era um termo factível em EAD. Ví celulares encolherem de pequenos tijolos até chegar a quase caixas de fósforo, para depois voltarem a crescer, mais leves de com telas enormes, embora não tão grandes como os ‘tijolos’ dos primórdios da telefonia celular. Aparelhos da Nokia que serviam só para telefonar e eram extremamente resistentes foram substituídos por delicados aparelhos da Samsung e Apple, que são usados para dezenas de finalidades diferentes além de servirem para fazer ligações telefônicas. Ví estes aparelhos se tornarem o centro das atenções de todos, seja para consumir conteúdo, para produzir mídia, para processar informação, dentre muitos outros fins, inclusive para derrubar governos na primavera árabe. Ví a velocidade de conexão com a Internet aumentar sistematicamente: WAP, EDGE, 2G, 3G, 4G, HSPA, LTE, de 9,8 Kbps para 250 Mbps, e por ai vai, sem parar.

Ví um império tecnológico como a Microsoft começar a ruir, depois de ter perdido o timing de entrar em diversas ondas: do modelo de negócio ‘gratuito’, dos celulares computadores de bolso, da tecnologia aberta, da monetização da informação pública, entre outras. Ví o satélite ser suplantado como canal de transmissão a grandes distâncias por uma rede capilar de Internet que permite assistirmos ao vivo imagens em locais impensáveis há alguns, através de pequenos dispositivos móveis. Ví a educação ser viabilizada para superar a distância e a incompatibilidade de tempo através desta rede mundial. Ví o professor ser deslocado da posição de detentor do conhecimento para a posição de facilitador de consumo de conhecimento, abundantemente disponível na rede nos mais diversos formatos. Ví práticas de educação engessadas e passivas começarem a ser substituídas por metodologias ativas, onde o aluno aprende a aprender, apesar das barreiras regulatórias.

Colaborei na construção do que temos visto e vamos ver nos próximos anos, buscando estar na ponta de lança do conhecimento humano, com visão de futuro sem perder a perspectiva sobre o passado. Pesquisei, tentando entender os fenômenos sociais que levam a Educação Online a ter um papel cada vez mais importante nesta sociedade do conhecimento.

E lá se foram 20 anos, que venham outros 20.

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