Parte anteiror (2/3)

Inclusão Digital de Professores

Os professores não são obrigados a manter uma rotina didática muito sofisticada em termos de uso de tecnologia da informação, salvo no que diz respeito ao uso básico de ambientes virtuais de aprendizagem, que precisam ser alimentados de recursos didáticos mínimos por parte de cada professor. Contudo, é bastante significativo o número de professores com cultura digital, pois a capacitação interna é algo constante na maioria das instituições de ensino básico canadenses. O distrito escolar católico de Calgary, província de Alberta, por exemplo, oferece capacitações ao longo de todo o ano no uso de softwares, sistemas e equipamentos voltados para educação. Basta a escola interessada solicitar e agendar a capacitação junto ao distrito, indicando um grupo de pelo menos cinco professores participantes, que o evento é arranjado para o atendimento das necessidades daquela unidade de ensino.

Ainda se deve considerar que a própria formação acadêmica do professor já conta com inclusão digital como sendo um elemento muito importante, pois considera-se que formar professores e pedagogos que dominem o uso de tecnologia da informação é algo indispensável ao bom exercício profissional. Além do mais, os professores já contam com inclusão digital oriunda da sua própria história escolar e acadêmica. As universidades canadenses já contam com um disciplinas ministradas através da Internet e mesmo aquelas que são presenciais, contam com um forte suporte de recursos operacionais e pedagógicos online. O educador, portanto, é egresso de um ambiente com intensa inclusão digital.

Na realidade, pelo menos nos grandes distritos escolares, localizados nas maiores cidades do país, o estudante canadense já tem intenso contato com educação híbrida (presencial + online) e a distância (online) desde o ensino médio, onde se tem o uso de recursos de Internet para expandir o processo de ensino-aprendizagem em sala de aula. Não obstante, também há facultativamente a possibilidade de se cursar disciplinas totalmente online.

Na província de Alberta, por exemplo, é oferecida a disciplina CALM (Career and Life Management), que tem uma abordagem informativa (sobre aspectos da vida cotidiana e profissional a serem observados para o sucesso acadêmico e profissional), é eletiva, de apenas dois créditos. Apesar de ser uma disciplina com baixa carga horária, ela já é o suficiente para permitir que o aluno de ensino médio já tenha um contato inicial com o paradigma da educação a distância. Isto prepara o aluno para uma realidade já estabelecida na vida adulta: o uso de educação híbrida e a distância na sua formação acadêmica e na aprendizagem continuada.

Em províncias como a de British Columbia, na costa oeste canadense, o estudante de ensino médio pode cursar não apenas disciplinas especialmente elencadas para serem ministradas a distância, mas podem também cursar todo o ensino médio através deste paradigma, desde que seguindo critérios específicos para tal:

  • uso de recursos didáticos, inclusive ambiente virtual de aprendizagem, homologados pelas autoridades regulatórias da educação provincial; sofrer supervisão de um professor certificado pela província;
  • realizar testes de avaliação regulares e
  • obter os resultados esperados.

Assim, a self-paced education, ou educação baseada em ritmo próprio, facilita em muito o acesso a educação por aqueles que se encontram em condições em que este paradigma se mostra apropriado: moradores de regiões remotas, pessoal recém chegado à província, ou mesmo optantes pelo homeschooling, onde parentes do aluno assumem diretamente a responsabilidade sobre o processo de ensino-aprendizagem do mesmo.

Esse paradigma de educação básica a distância era algo totalmente proibido por força de Lei no Brasil, apenas recentemente sofrendo uma pequena abertura, através do decreto nº  9.057 de 26 de maio de 2017. Passou a ser autorizado o ensino médio a distância apenas em casos excepcionais, onde não há impossibilidade de sua realização presencial. Mesmo assim, o ensino tem que se dar ainda dentro de parâmetros próximos ao que ocorre presencialmente, com educadores formados e autorizados para atuar como tal junto ao aluno, não sendo permitida a educação propiciada por pais de alunos, como é possível em países como Canadá e Estados Unidos.

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Esta é o segundo texto de uma sequência de quatro textos. Para ter acesso ao primeiro texto e entender o contexto em que está inserido este texto, bem como link direto para os outros textos, clique aqui.

O texto original de Giovanni Farias pode ser encontrado no capítulo Educação Híbrida e a Distância no Canadá, do livro Tecnologias Interativas – Mídia e Conhecimento na Educação, Paco Editorial, 2016, ISBN 987-85-462-0256-0.

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