Para quem não é da área de Educação e tem contato pela primeira vez com os conceitos da Taxonomia de Bloom, pode parecer um pouco difícil ter o pleno entendimento sobre o que ela tem a ver com o seu processo educacional. Por isso escrevo aqui um texto que tenta trazer simplicidade ao entendimento prático deste conceito, bastante útil para qualquer um que exerça educação, seja como provedor ou consumidor.

Taxonomia pode ser entendido como ciência da classificação (de qualquer coisa). Tomemos como exemplo um campeonato de futebol, em que temos a taxonomia das séries para classificar (pelo menos teoricamente) a qualidade dos times participantes. Os mais importantes e famosos pertencem à série A, seguidas pelas séries B e C com times intermediários, até os times locais (desconhecidos nacionalmente) que são da série D. Outra taxonomia fácil de entender são as estrelas dadas aos hotéis. Um hotel de cinco estrelas é supostamente o que apresenta o maior luxo e facilidades para seus hóspedes, enquanto aquele de uma estrela é o que fornece apenas o mínimo para ser considerado um hotel propriamente dito. Enfim, de forma simplificada, taxonomia significa classificação ou categorização.

Beijamin Bloom) foi o líder de um projeto educacional que no ano de 1956 estabeleceu uma classificação de objetivos de aprendizagem para o domínio sobre um conhecimento qualquer: um fato, um problema ou um conceito.

Para facilitar o entendimento da sua taxonomia, Bloom à simbolizou com uma pirâmide (por isso a pirâmide acima, apenas para ilustrar e ativar a curiosidade). A pirâmide de Bloom é mostrada abaixo e apresenta a taxonomia, a categorização da aprendizagem. O entendimento desta categorização é fundamental para quem lida com educação, mesmo que de forma leiga. Por isso vamos entender e contextualizar cada uma das seis categorias.

Lembrar

O nível mais básico da aprendizagem é a lembrança. É o que pode ser chamado popularmente por alguns de ‘decoreba’, ou seja, o ato apenas de ler ou assistir um conteúdo e memorizar o que leu ou viu. Quando apenas lembramos conceitos, sem sequer necessariamente compreendê-los, é a forma mais pobre de aprendizagem, em geral inútil, que nos tornam meros ‘papagaios’ que repetem conceitos, práticas ou ideias sem ter o entendimento pleno sobre os mesmos. O pior é que este tipo de aprendizagem não é difícil de ser encontrado em processos educacionais, seja na escola, na universidade ou em corporações. A avaliação em processos educacionais pobres como este privilegiam a memorização, sem que seja necessária a compreensão do que está se respondendo para obter êxito. Afinal, quem nunca fez uma prova com questões de múltipla escolha que bastava decorar os textos para se dar bem? E mesmo questões abertas que apenas demandam que o aprendiz defina algo ou liste itens pode ser tão pobre quanto o questionário de múltipla escolha, basta que reproduza fielmente o que leu e ‘demonstrará’ capacidade.

Compreender

Quando um curso demanda que o aluno discuta, descreva, explique conceitos, fatos ou problemas com suas próprias palavras, já revela se houve ou não compreensão do que supostamente devia ser aprendido. É um grande avanço em relação ao nível anterior, mas ainda limitado. Afinal, em geral se aprende algo para aplicar na vida prática. Apenas entender é muito pouco, e pode levar facilmente ao esquecimento do conceito compreendido. Infelizmente é o que mais ocorre em nossa vida estudantil na juventude. ‘Aprendemos’ diversos conceitos de matemática, de física, de química, mas não temos a menor ideia (até hoje) de como podemos aplicar na vida prática, muito embora tais conceitos estejam presentes no nosso dia-a-dia, mas se não sabemos como aplicá-los, então não entendemos como eles nos afetam. A avaliação nos cursos neste nível comumente demandam que o aluno a discutir, descrever, explicar, classificar, identificar, selecionar, traduzir conceitos, apenas.

Aplicar

Quando entendemos como aplicar um conceito, como contextualizar um fato ou a solução de um problema em nossa realidade, começamos a ter um maior grau de aprendizagem por aplicar os conceitos compreendidos.  Os cursos deste nível demandam que os alunos executem/implementem os conceitos na prática, em novas situações que não as inicialmente apresentadas. Não estamos falando ainda de criação, mas apenas de replicação de conceitos em um novo contexto. É o caso de um aluno de computação que usa um código fornecido pelo professor para ser executado e verificar o resultado. Também é o caso de um aluno de um curso de planilha Excel que reproduz um procedimento para obter uma informação importante dos dados de uma empresa. Ou mesmo o aluno de uma escola, que faz experimentos de física no laboratório, comprovando as teorias apresentadas em sala de aula. O aluno não tem capacidade de criar algo novo, mas já consegue replicar na prática um procedimento, um conceito, já levando-o a outro patamar de aprendizagem além da compreensão, pois houve a constatação do que aprendeu. As avaliações deste tipo de curso em geral são subjetivas, pois envolvem execução, demonstração, implementação, uso prático dos conceitos apresentados. É o caso de apresentação de seminários, demonstração prática de procedimentos ou teorias, prototipação ou pelo menos projeto de algum artefato.

Analisar

Neste nível de aprendizagem, o aluno já começa a desenvolver um senso crítico, que o habilita a comparar, classificar, relacionar conceitos diferentes. Neste nível de aprendizagem, o objetivo é que o aluno tenha capacidade de estruturar a informação que lhe é apresentada. Pode ocorrer em forma de cálculo estrutural de uma planta, em que o aprendiz de engenheiro vai comparar duas soluções para um problema e determinar a melhor com base em cálculos. Pode envolver a análise de produtos diferentes que são ofertados para uma empresa adquirir, determinando os critérios de escolha feita pelo estagiário. Pode ainda envolver a classificação da melhor prática de tratamento de uma doença de acordo com o diagnóstico obtido nos exames. Por isso as avaliações neste nível de aprendizagem, em geral, requerem que o aluno disserte sobre algum tema fazendo análise dos conceitos aprendidos e a informação disponível para análise.

Avaliar

Adicionando um grau de aprendizagem à análise, no nível de avaliação o aluno tem a capacidade de avaliação sobre o que analisa. Isso implica não apenas listar opções, mas julgar e decidir sobre a melhor (ou a pior) delas, ou mesmo criticar, selecionar, defender uma posição. O aluno é demandado de tomar uma posição a respeito do que aprende, partindo da análise feita mas chegando a uma conclusão. Isso requer maturidade no entendimento do conceito envolvido e riqueza na argumentação sobre a posição escolhida. Por isso as avaliações deste tipo são em geral baseadas em dissertação sobre a avaliação feita ou mesmo incluindo defesa oral.

Criar/Sintetizar

O ápice da aprendizagem se dá quando o aluno sente seguro o suficiente para criar ou sintetizar os conceitos aprendidos. Isso se reflete quando um aluno de programação cria seu próprio programa, com técnicas por ele desenvolvido; ou quando um aluno de enfermagem adapta alguma prática à realidade operacional em que se encontra; ou quando um colaborador investiga e propõe a implementação de processo novo ou aprimorado de trabalho em uma corporação.

Como pode ser notado, quanto maior o nível de aprendizagem, mais sofisticado é o pensamento do aluno sobre o tema a ser aprendido, especialmente a partir da aprendizagem que demanda análise (quarto nível), onde a aprendizagem é rica e crítica. Não por acaso que as avaliações nestes três níveis mais altos da pirâmide dificilmente descartam dissertação, defesa oral das ideias levantas no processo de aprendizagem ou alguma forma de intensa interatividade. Estes cursos promovem aprendizagem ativa, onde o aluno tem que desenvolver um alto nível de consciência sobre o que está aprendendo, e são mais comumente encontrados em cursos universitários. Os cursos que se baseiam em elaboração de projetos ou solução de problemas são os que têm mais facilidade de chegar no topo da pirâmide.

Por outro lado, os níveis mais baixos da pirâmide indicam aprendizagem limitada, pobre, embora útil em algumas situações. Em geral, cursos corporativos usam estratégias dos níveis mais básicos de aprendizagem. Por isso podem fazer uso mais abrangente de avaliação com questões de múltipla escolha, o que automatiza o processo e permite uma pequena equipe lidar com um grande número de alunos. Como se demanda apenas memorização e demonstração básica de aprendizagem, ou quando muito apenas constatação de aplicabilidade de conceitos, são cursos que demandam pouca ou nenhuma interação, o que permite cursos de ‘auto-atendimento’: inscrição, exploração de conteúdo, avaliação e fechamento de curso.

Após ter entendido a taxonomia de Bloom, verifique em que nível cursos que você fez ou faz estão na pirâmide de Bloom. Na mesma figura acima você nota que os níveis mais baixos propiciam uma baixa retenção do que se aprende (até 20%), pois geralmente as atividades são passivas (assistir aulas, vídeos ou ler textos). A retenção da aprendizagem aumenta até 75% quando fazemos exercícios, experimentamos teorias, interagimos com colegas e tutores, ou pelo menos temos demonstração dos conceitos teóricos. Mas só quando aplicamos os conceitos, analisando o contexto e sintetizando o que aprendemos, mesmo na companhia de mentores, é que temos o melhor aproveitamento da aprendizagem.

 

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